Já deu uma olhada nos sites de programas voluntários? Sou viciada neles!
Tudo começou quando uma grande amiga, Maria, me mandou um link. Esse site, que ainda estava em seus primórdios, era o WorldPackers. Viajei nas propostas dos hostels durante 3 anos, até decidir que era minha vez.
Você pode fazer o mesmo e ir pra Chapada dos Veadeiros utilizando meu código de 10 dólares de desconto: SOLANOMUNDO10. Assim, você vai desenvolver novas habilidades ao redor do mundo sem pagar por hospedagem.
Como foi minha experiencia de voluntariado na Chapada dos Veadeiros?
Fiz dois voluntariado na Chapada. No primeiro, minha anfitriã foi a Anna, do Camping do Encontro. Minhas tarefas iam desde arrumar o terreno rastelando folhas, até deixar a cozinha e os banheiros em ordem.
Por sorte, eles procuravam voluntários para o evento do ano e por isso, trabalhei também no Encontro de Culturas Tradicionais. Para mim, todas essas responsabilidades do evento significariam riscar as cachoeiras mais distantes do roteiro.
Até o dia que resolvi conversar com um menino na cozinha.
Eu já o tinha visto antes. Díficil não reparar, Rafael. Alto do tipo levemente curvado, bem magro, bem loiro, olho bem azul. Poderia ser modelo ou coisa assim, mas seu único dread, seus óculos e sua papete de santo apontavam outro rumo.
Li Inhotim, em sua sacolinha de tecido. Perguntei se queria ajuda com a louça. O Rafael veio do Rio de Janeiro para a Chapada, e depois de 2 anos na Europa, estava conhecendo o Brasil. Ele trabalhou em fazendas gringas e viajava de carona. Um crush de viagem.
Sua rotina atual passou por meus olhos, como uma cena de filme carioca.
A música é Bossa nova. Pedalando pela orla ele chega a livraria onde trabalha, no Leblon. Cores quentes e pessoas de bermudas com copos de caipiri..Corta!
Chegou o André, o primo carioca menos alternativo.
André estuda administração e trabalha na Cielo operando um sistema de anti-clonagem para chips de cartões de crédito. Rotinas tão diferentes, na mesma cidade. Ele deve trabalhar com uma camisa azul-céu de São Paulo. Acho que aquele tipo de música eletrônica, que acompanhava sua narrativa, era o que estava evitando no cerrado.
Passada essa transferência negativa, André se tratava de um cara muito legal, que queria dicas de cachoeira. Lembrei da tal da Santa, o lugar que eu não iria. Reproduzi com a mesma animação os comentários dos recém chegados e completei com suas fotos.
Depois de trocar olhares e duas frases sobre a nova decisão, me convidaram para ir junto. Prendi a respiração.
Era minha chance de conhecer essa cachoeira, que o tanto de linda, tinha de distante. Suas incríveis águas azuis estão a mais de duas horas da Vila de São Jorge, município de Cavalcante. O pacote incluiria uma visita ao quilombo Kalunga e um mergulho na cachoeira da Capivara.
Conversei com a Anna sobre pegar o turno das 18 as 22 horas. Ela já sabia que eu não chegaria a tempo, eu só desconfiava. Mesmo assim, minha chefe aceitou, entendeu, e ainda me contou das belezas de lá.
Estava muito empolgada com essa viagem, dentro da viagem, quando encontrei a Júlia, que virou uma grande amiga, no caminho. Eu trabalhava na recepção do camping de dia e ela, no bar do Encontro de Culturas, a noite. Formávamos uma ótima dupla.
“Ju! Tem dois caras que vão amanhã na Santa Bárbara! Tão na cozinha e tem lugar no carro!”
Ela entendeu do que eu estava falando, Santa Bárbara é a figurinha brilhante da Chapada. A Ju é atriz e dá aulas de circo em Cabo Frio. Se formou em produção cultural e foi para a Chapada viver o Encontro de Culturas. E assim ela fez, quando combinou com eles que iria junto.
Uma viagem com desconhecidos tem tudo pra dar ruim, o que é sempre uma ótima ideia.
No carro escutei as histórias de viagem do Rafa, me apaixonei pelo jeitinho da Ju e com o André, tive a incrível surpresa de termos participado de um mesmo programa, que leva jovens a Israel, chamado Taglit. Relembramos ótimos momentos entre o morro da baleia e as flores dos chuveirinhos no caminho.
Chegamos no centro do quilombo e conhecemos um casal para dividir a guia, Ligia, com a gente. Ela é Kalunga, como já diziam suas grandes tranças muito bem arrumadas com uma fita azul e seu sotaque, enfeitado por pequenos “hums” entre as palavras.
A primeira parada foi a cachoeira da Capivara. Um ótimo lugar para morar, se você for uma fada. Na falta de uma, são duas quedas d’água. Pequenos peixinhos passando e montanhas a perder de vista. Um cenário satisfatório para descobrir que a companhia do casal que encontramos por acaso era tudo o que faltava.
A mulher se chama Carol e trabalha na Funai. Puta coincidência.
Conversamos sobre meu futuro trabalho na Aldeia Multiétnica e ela dividiu comigo alguns pontos negativos.
Como o saneamento. Acompanhei melhor o raciocínio da Carol ao me dar conta de que nove tribos, de regiões e costumes totalmente diferentes habitariam a mesma Aldeia por uma semana. Loucura.
Fiquei um pouco apreensiva com a conversa mas ao mesmo tempo, animada para conhecer tantos povos.
Eles topam esse perrengue pela oportunidade de falar sobre sua realidade e encontrar seus parentes na força. Conheci lideranças que entram no palácio do planalto questionando os políticos.
Para mim foi inspirador, muito mais para os índios mais novos. O Thiago, namorado da Carol, era tão bacana quanto. Tinha um grande buriti nas costas e a parte da frente de seu corpo completamente rabiscada, fazendo referência a obra História da Loucura, de Foucault.
O dia já tinha sido legal desse tanto e eu ainda não tinha conhecido a tal da santa. Voltamos para o carro e a paisagem no caminho foi exatamente como eu imagino o fundo do oceano. Andamos um pouco e:
UAU!
Parei e fiquei olhando uma piscina azul com os olhos arregalados. Na mesma hora, a Ligia riu e falou que aquela ainda não era a cachoeira. Depois de me zuarem um pouquinho, fiquei muito empolgada em conhecer um lugar ainda mais bonito.
Santa Bárbara é simplesmente A cachoeira. Sua piscina azul turquesa gigante é emoldurada por imensos paredões de pedra e uma mata verde escura.
Não sabia o que fazer primeiro. Tirar foto, um mergulho ou uma meditação. Mas como já estava ficando frio, o que não iria melhorar, pulei com a Ju. A Carol já estava dentro e o Thiago foi depois. Por último o André e o Rafa não. Acho que ele não é de experimentar tudo na pele como eu.
Saí de lá com frio mas com um calor no coração.
Já eram umas 5 da tarde e estávamos famintos. O almoço Kalunga foi melhor que a encomenda, como todas as vezes que almocei em um quilombo.
Suco de tamarindo, peixe frito, verduras, arroz, feijão e a estrela da tarde: macaxeira frita. Durante o banquete cada um contou um pouco mais de si. Na minha vez, o assunto foi esse blog que você está lendo.
Já tinha tudo na minha cabeça para o projeto Sola no Mundo e, contagiados por minha empolgação, me desejaram muita sorte.
O sol laranja foi se despedindo e um grande desenho no estilo Romero Britto em uma casa do quilombo virou o assunto da sobremesa. Como esse estilo chegou lá? Por que Britto e não arte Kalunga? Pelo menos é brasileiro! O André não deixou a gente dividir a gasolina (valeu André!) e acabei chegando muito tarde no camping para trabalhar.
Me desculpei com a Anna muito mais tensa que ela. Decidi trabalhar dobrado no outro dia, mas, para compensar tanta beleza, trabalharia até mais.